31 de agosto de 2009

FILMES DO CINESUL NO PRESÍDIO EVARISTO DE MORAES

Desde 2007 eu faço o Festival Cinesul com meu marido Leonardo e sempre sou eu que cadastro a montanha de filmes que se inscrevem no festival.
Bem, este ano entre janeiro e março eu recebi 3 filmes sobre o universo penitenciário e em meados de abril eu li uma matéria no GLOBO Zona Norte uma reportagem sobre o Cineclube Prisma, que fica na escola pública Anacleto de Medeiros dentro do Presídio Evaristo de Moraes, em São Cristóvão.

Juntando uma coisa com a outra, resolvi ousar: Por que não levar algumas mostras do Cinesul para serem exibidas lá?
Processos burocráticos aqui e acolá, consegui entrar no Evaristo de Moraes para uma reunião com os organizadores deste cineclube. Lá encontrei homens educados e muito comprometidos com este projeto. Um deles me falou a seguinte coisa:
"Conseguimos transformar uma cela num espaço cultural." E falava isso com um brilho nos olhos e com aquela sensação de missão cumprida.

Dia 25/08, às 10 da manhã, eu entrei nesta cela para apresentar o meu festival.
Em relação às celas que vemos no noticiário, esta era bem grande. Do lado esquerdo de quem entra, há uma pintura de Machado de Assis feita por um deles, que por sinal devora os livros do Machado!

Encontrei de 50 a 60 detentos, das mais diversas idades, que estudam desde o C.A ao 2º grau; que estão acostumados neste Cineclube a assistirem filmes de ação no mais puro estilo hollywoodiano e eu estava propondo a eles assistir a curtas-metragens brasileiros ! Naquela hora eu estava diante deles propondo que assistissem "Imagens do Jongo" do Guillermo Planel. Jongo? A Festa dos Pretos Velhos num lugar em que brota evangélicos em profusão ! Coragem ou loucura não sei ... diante deles estava muito serena e não sou de falra em público.

Para minha surpresa não houve vaias, comentários impertinentes, pelo contrário, após a exibição do filme, foi dado o microfone para que eles comentassem o que sentiram, e foi surpreendente a participação. Detalhe, não eram somente os da primeira fial que participavam.

Enquanto o debate acontecia, um dos detentos começou a conversar comigo elogiando a minha coragem em forma de poesia. Eu prestava atenção em suas palavras e tentava conter as lágrimas. Seu nome é Wilson. Um israelense de 54 anos condenado por formação de quadrilha, que "mora" há 27 anos no Evaristo de Moraes.

Foi uma experiência muito boa que carregarei pra sempre no meu coração.
O Presídio Evaristo de Moraes, em relação a muitos, é uma prisão de primeiro mundo! Dentro das deficiências de nosso sistema, é claro. E nisso os professores da escola Anacleto de Medeiros ajudam muito. Mesmo assim é um espaço cercado de dor, sofrimento, tristeza e revolta.
A lição que ficou foi a da resistência e da transformação. Neste cenário cinzento eles conseguiram enxergar uma "luzinha" transformando uma cela num lugar onde a arte e o pensar flui, pra mim isto foi simplesmente genial !

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